quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ragnarok

O Ragnarok é o fim do mundo na mitologia nórdica, quando tudo morre para poder se renovar, em um ciclo eterno. É dessa forma que encerro mais um blog. Afinal, depois de chegar ao Valhalla, o que mais me espera? Já provei que quando a circunstância exige consigo lutar por mim mesmo, que quando quero algo vou até as últimas consequências, portanto posso dizer que encerrei minha passagem nesse ciclo com a espada firme na mão, garantindo meu lugar no castelo dos mortos. Mas agora um novo ciclo se inicia, uma promessa de vida no reino devastado, antes tão gelado pela busca do Valhalla. Agora vejo que toda minha vida foi uma escalada nessa montanha gelada que serve de fundo ao blog. Um longo inverno cada vez mais severo, até que cheguei ao topo da montanha, onde só encarei o próprio vazio da minha existência. O abismo mais profundo de todos. Todo o fogo que eu trazia dentro de mim se apagou, portanto não tinha mais forças para fazer o caminho de volta, me sobrando apenas o abismo como saída. E quando o frio já tomava todo o meu corpo não havia outra opção além de me entregar ao abismo, independente do tamanho da queda, e foi o que eu fiz. Não tenho nem coragem de compartilhar as coisas terríveis que vi e senti lá dentro. Essas sempre carregarei comigo, onde quer que eu vá. Por outro lado, encontrei um outro tipo de fogo que não se pode apagar uma vez ele é aceso, nada mais do que a luz do conhecimento. Uma luz capaz de iluminar a mais sombria das almas. Através dela que vou encontrar o caminho de volta, pois chegou a hora de descer a montanha gelada e ver o que me espera lá em baixo, onde antes só havia ruínas. Agora tenho o fogo para incendiar o reino perdido. Dessa vez, eu escolho a vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Réquiem

Escrevo essa homenagem ao Ramiro verdadeiro, não a idéia dele. Acho que não se pode negar que ninguém conheceu ele melhor do que eu. O Ramiro tímido, engraçado e inteligente. O Ramiro que sempre queria acreditar no melhor das pessoas e tinha boas expectativas em relação a quase tudo. O Ramiro que fazia tudo para as coisas transcorrem em harmonia e para agradar os outros. Queria que ele tivesse sido mais egoísta. Porque tudo que ele mais queria era ter uma vida mais significativa, assim como todos nós, mas que guardava isso para si. O Ramiro que não era especial, não mais do que qualquer outra pessoa, mas que para mim era especial. O Ramiro que acima de tudo era humano e isso já era o suficiente. Mas nunca pude dizer isso a ele. Nunca pude dizer que ele era sim capaz de ter as coisas que queria. Agora preciso provar isso a mim mesmo, porque quem sabe um pedacinho dele me acompanhe nessa jornada, me dando forças para seguir em frente quando os obstáculos parecem intransponíveis. É o mínimo que eu posso fazer.

sábado, 6 de agosto de 2011

Deus não diz nada de volta



Parece que o mundo foi para o subsolo
Onde nem deuses ou heróis se atrevem a descer
Enquanto lágrimas caem de um buraco no céu
No alto como corvos, caindo como bombas

Através do brilho prateado de uma manhã congelada
Deus não diz nada de volta, mas eu avisei
Eu avisei

Deus abençoe o vazio dos meus devaneios
Deitado na neve, fazendo asas de anjo
Como luzes dançando em câmera lenta ao amanhecer
Velejam sob um ardente sol amarelo

Estou chamando bem do fundo dos meus ossos
O tempo não diz nada de volta, mas eu avisei
Eu avisei

Águas mortas subindo em minha mente
Negras e profundas, fumaça atrás dos meus olhos
Na noite passada não pude dormir nada
Alucinei que você estava em meus braços

Para estar no seu coração eu falhei com o meu
O amor não diz nada de volta, mas eu avisei
Eu avisei

Continuo aqui reescalando cada degrau
Alguém viu alguma coisa, alguém fale
Mais uma vez eu atravesso a ponte apodrecida
Abram esses túmulos, deixem esses corpos falar

Enterrado sob folhas vermelhas e douradas
A morte não diz nada de volta, mas eu avisei
Eu avisei

Jakob Dylan - The Wallflowers

sábado, 23 de julho de 2011

Eu sou meu



Os egoístas estão todos esperando em linha
Confiando e esperando para comprar tempo para eles mesmos
Eu já percebo que a cada respiração que passa
Eu só tenho a minha mente

O Norte é para o Sul o que o relógio é para o tempo
Há Leste e há Oeste e há vida por toda parte
Eu sei que nasci e sei que morrerei
O que acontece no meio é meu
Eu sou meu

E os sentimentos que ficam para trás
Toda a inocência perdida de uma vez
Significados atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder
Nós estamos seguros esta noite

O oceano está cheio porque todos estão chorando
A lua cheia procura amigos na maré alta
A tristeza aumenta quando a tristeza é negada
Eu só conheço a minha mente
Eu sou meu

E os significados são deixados para trás
Todos os inocentes perdidos de uma vez
Significados atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder
Nós estamos seguros esta noite

E os sentimentos que deixamos para trás
Toda a inocência quebrada com mentiras
Significados entre as linhas
Podemos precisar nos esconder

E os significados que deixamos para trás
Todos os inocentes perdidos de uma vez
Nós somos todos diferentes atrás dos olhos
Não há necessidade de esconder

Eddie Vedder - Pearl Jam

terça-feira, 19 de julho de 2011

Escuridão

Por muito tempo lutei contra algo que não precisava, essa mão que durante toda a minha vida me empurrou na direção do abismo, me forçando a enxergar a escuridão em seu interior. No meu interior. Eu caio lá de cima e sinto meus ossos se partirem na queda, quando chego bem lá no fundo, e assim deixo um corpo quebrado para trás, partindo em frente rumo a escuridão. Porque trago comigo a tocha que carrego desde que conheci minha estrela, mesmo que nunca tenha alcançado ela, devido a essa terrível escuridão. Não sei de onde ela veio, apenas de algumas causas que não me permitem desviar o olhar dela, e quanto mais tomo conhecimento dela, mais eu quero conhecê-la. Agora eu corro dentro do abismo iluminado pela tocha. Ao meu redor eu enxergo vislumbres da minha vida, todas as peças se encaixando como em um quebra-cabeças, até que caio de joelhos quando percebo que falta uma peça. Algo que foi roubado cedo demais. Era uma vez uma rosa que foi muito maltrada e se tornou uma garotinha perdida na escuridão, a qual tentei proteger com todas as forças, mas quem tomava conta dela era só um garotinho assustado, soterrado nos escombros. Mas eu encontrei o garotinho, deixando ela sozinha e vulnerável na escuridão, até que ela desapareceu outra vez. É o que o homem da meia-noite tentou me dizer. A estrela foi a tocha que me permitiu encontrar a rosa, mas ela foi consumida pelas chamas, embora existam tantas outras para colher. Porém, aquela era a minha rosa, por isso devo continuar nesse romance comigo mesmo. É a última peça que falta para eu encontrar a saída da escuridão. Agora não há mais volta. Chega de atingir a beira do abismo e voltar correndo quando a escuridão se aproxima demais, chega de cair e tentar levantar, somente para repetir todo o processo. Já perdi tempo demais nessa luta que me desvia do meu verdadeiro propósito. Porque agora tenho a tocha e consigo manter a escuridão longe de mim, assim como espero manter longe da rosa, quando encontrar ela de novo. Talvez dessa vez eu consiga curar suas cicatrizes e devolver ela ao seu lugar de origem. Somente assim serei inteiro outra vez.

domingo, 3 de julho de 2011

A luta

Outro dia sonhei que era um lobo. Eu corria num campo de batalha, entre dois exércitos inimigos, mas ninguém queria lutar comigo. Eram todos mais rápidos do que eu e fugiam em disparada quando eu me aproximava. Na verdade, eles não fugiam, simplesmente me ignoravam. Acho que estava no Valhalla, onde vivem os guerreiros caídos em batalha na mitologia nórdica, mas aquela glória estava sendo negada a mim, e não sei exatamente o porquê disso. Nos últimos meses, desde que comecei minha jornada, sou assombrado pela figura de um viking, todo feito de cabelos e barba desgrenhados. É ele que surge quando não encontro motivos para sair da cama, dizendo "levanta, seu merda". Diante daquele olhar, sou obrigado a obedecer, e por um bom tempo vivi sob a censura dele, como se estivesse fazendo algo errado. Até o dia em que acordei sufocando. Passado o susto inicial, tal como um guerreiro atacado na alvorada, lutei por duas horas na companhia de outros três, cada um cumprindo seu papel. E por mais que o garotinho assustado dentro de mim só quissesse ser cuidado, aquela era uma batalha só minha, a qual lutei nos meus termos. No fim, conquistei a vitória de maneira honrada, sem nenhum procedimento que me comprometesse, por mais difícil que tenha sido. Então deitei novamente, agora para curtir um merecido descanso, meus espólios de batalha. Nisso o viking surgiu diante dos meus olhos, invisível para os demais, mas para mim tão real quanto qualquer outra pessoa, e seu olhar era de aprovação. Finalmente eu havia recuperado o prazer da batalha. Não só isso, mas aceitado a luta como parte integral da minha existência, sem nenhuma vergonha no fato. Muito pelo contrário. Naquele momento fui tomado por uma súbita emoção e não contive as lágrimas. Que interpretassem aquilo da maneira que quisessem, porque não devo mais nada a ninguém, não agora, quando descobri que posso lutar por mim mesmo. Eu estava curtindo meu Valhalla particular e ninguém me tiraria isso. Com o tempo, a vida retomou seu ritmo normal, assim como a guerra, que sempre fez parte dela, ainda que eu tenha tentado negar esse fato. É difícil explicar. Essa experiência me faz valorizar cada segundo de vida, mas também envolve tudo com uma certa melancolia, que só pode ser comparada a sensação de um veterano de guerra ao voltar para casa, vendo as coisas sob uma perspectiva diferente. Acho que sempre sentimos falta das coisas que deixamos pelo caminho, companheiros de batalha que ficaram para trás, seja porque morreram ou seguiram seus próprios caminhos. É o luto que acompanha a luta. Mas quando a noite chega, sou tomado pelas lembranças, então tenho meus sonhos de lobo, nos campos de batalha do além-mundo, onde procuro alguém com quem brigar, seja lado a lado ou contra. Só que a mensagem é clara: essa luta é minha e de mais ninguém. E se posso lutar por mim mesmo, também posso prover para mim mesmo, deixando de ser um sobrevivente e virando um guerreiro, aquele que escala a montanha sem medo. Chegar ao topo dela pode ser difícil e duro, mas o Valhalla é tão real quanto o viking que não me deixa desistir, esse fogo dos deuses que me impele para frente, por pior que sejam as circunstâncias. Afinal de contas, o que eu sou?

Um garotinho? Um homem? Um deus? Quem sabe um pouquinho de cada.